Arquitetura neogótica: imagens da mais bela livraria da Europa

J. Lorea

SUMÁRIO
Passeio iconográfico pelo interior de uma das mais bonitas livrarias da Velha Europa, acompanhado de texto explicativo.
Palavras chave: iconografia; arquitetura; livraria

SUMMARY
Pictorial tour through the interior of one of the most beautiful bookstores in Old Europe, accompanied by explanatory text.
Keywords: iconography, architecture, library


Em 1881 foi fundada a Sociedade José Pinto Souza Lello & Irmão, mais tarde (1919) designada de Livraria Lello & Irmão. O edifício construído em 1906, ao estilo neogótico, é da autoria do engenheiro Xavier Esteves. No interior merecem especial atenção a decoração em gesso pintado a imitar madeira, a escada de acesso ao piso superior ­– uma das primeiras construções de cimento armado do Porto, bem como o grande vitral existente no teto, que ostenta o monograma e a divisa da Livraria: Decus in Labore. O sentido da frase evoca a dignidade no trabalho com os livros, ressaltada pelos seus fundadores.

O edifício da chamada Livraria Chardron, depois Livraria Lello & Irmão, está situada na Rua das Carmelitas, nº 144, no Porto, Portugal.

É uma livraria com uma velha história que remonta a 1869 quando foi fundada na Rua dos Clérigos com o nome de Livraria Internacional Ernesto Chardron. Com a morte deste e depois de várias negociações, foi reaberta como Livraria Lello & Irmão como referência a seus livreiros, nome que permanece até hoje. Foi inaugurada a 13 de janeiro de 1906.

A Lello & Irmão, neo-gótica e modernista, é famosa no mundo inteiro e um dos ícones de uma cidade com grande tradição literária.

É também lugar de peregrinação habitual para letrados, e tem sido qualificada como a mais bela do mundo. A decoração, feita a base de madeiras talhadas, filigranas e de múltiplos detalhes dotados de encanto antigo, conseguem um ambiente de época indiscutível que enamora qualquer amante não só de livros mas também de história, de arte e de arquitetura.

Também recomendo ver com calma as estantes repletas de livros que refletem as cores irisadas dos vitrais das paredes e dos tetos. Foi no edifício desta livraria que foram rodadas cenas do conhecido filme Harry Potter. Estar neste espaço nos transporta a outras épocas passadas. No teto uma cúpula de cristal, dota o ambiente de magia, permitindo a entrada de uma deliciosa luz natural perfeita para a leitura.

Descrita por como a mais bonita do mundo, em 2008 o periódico inglês The Guardian considerou-a a terceira mais bela.

No assoalho de madeira de lei, os trilhos contornam o espaço onde circulava um pequeno vagão carregando os livros.



HISTÓRIA

No dia 13 de Janeiro de 1906, por volta do meio-dia, a baixa portuense acotovelava-se para ver as individualidades mais destacadas das Letras portuguesas, professores universitários, artistas, jornalistas, homens políticos e comerciantes do Porto, entre os familiares dos proprietários da Livraria Lello e Xavier Esteves, autor do projeto do edifício a inaugurar, todos dirigindo-se para o interior daquela casa, onde se procederia à solenidade de abertura. Presentes figuras como Guerra Junqueiro, Abel Botelho, João Grave, Bento Carqueja e muitos outros.

Depois do congraçamento e de palavras elogiosas proferidas aos editores livreiros, Abel Botelho deixou registrado o seu testemunho no Livro de Ouro da livraria, que se revelou premonitório: «...erigir um tão formoso templo ao divino culto da Emoção e da Idéia, é um grande ato de benemerência, e que, pelos seus largos e fecundos resultados, há-de ligar perduravelmente os nomes Lello & Irmão
ao reconhecimento nacional».

A história da livraria Lello remonta a 1869, ano em que é fundada na Rua dos Clérigos a Livraria Internacional de Ernesto Chardron. Após o imprevisto falecimento de Chardron, aos 45 anos de idade, a casa editora foi vendida à firma Lugan & Genelioux Sucessores. Em 1894 Mathieux Lugan vendia a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello que possuía então uma livraria na Rua do Almada. Associado ao irmão, António Lello, mantêm a Livraria Chardron, com a razão social de José Pinto de Sousa Lello & Irmão, até 1919, ano em que o nome da sociedade muda para Lello & Irmão Ltda
.Este verdadeiro ex-líbris da cidade atravessou o século XX, geração após geração, nas mãos da mesma família.

Em 1995, José Manuel Lello decide realizar uma profunda transformação no interior da livraria, cuja herança, segundo as suas palavras, lhe «trazia não só um passado de ricas tradições mas também a exigência de fazer perdurar esse ideal de amor pelos livros, que se traduziu na edificação de uma obra arquitetônica única no mundo». O trabalho de restauro e de adaptação às atuais formas de uso foi entregue ao arquiteto Vasco Morais Soares.

Entrando hoje no interior da livraria, o visitante sente-se envolvido por um ambiente acolhedor, onde pontificam os livros e uma decoração impressiva. Uma vasta sala, com uma galeria que dá acesso a um escada ornamental, onde correm algumas mesas que servem para exposição dos livros. Bancos em madeira e revestidos a couro e estantes a toda a altura desta sala perfazem o espaço interior próprio de uma livraria atual, mas que guarda a memória do passado. Nos pilares, à esquerda e à direita, distinguem-se os bustos de distintos homens de letras: Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro. O teto, lavrado, resguarda no centro uma luminosidade diáfana que provém do amplo vitral em que se desenha o ex-libris de Lello & Irmão Ltda.

Como foi escrito, no princípio do século passado, a riqueza de tons do grande vitral, o recorte gracioso das janelas, a balaustrada da galeria e os grandes candelabros situados nos ângulos que demarcam esse espaço, as lindas ogivas que se entrelaçam no teto sob os florões e que vêm morrer nas nervuras que correm pelos pilares até às mísulas, deixam o visitante deslumbrado.A mesma admiração suscita a fachada em estilo neogótico, formada por um amplo arco abatido, cuja entrada se divide numa porta central, ladeada por duas montras.Sobre este arco há uma janela tripla, fechada na platibanda e separada das pilastras, as quais são encimadas por coruchéus originais. Dos lados da janela, destacam-se duas figuras pintadas, da autoria de José Bielman, simbolizando uma a Arte e a outra a Ciência. O resto da fachada completa-se com ornamentação fitográfica e com o nome da livraria. De realçar o rendilhado que encima o edifício, todo ele um monumento artístico que já mereceu classificação de património nacional.


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